Sete estados têm alta nos casos de chikungunya no primeiro semestre de 2017

Sete estados brasileiros — Roraima, Pará, Tocantins, Ceará, Minas Gerais, Espírito Santo e Mato Grosso — apresentaram uma alta nas notificações de chikungunya no primeiro semestre de 2017, em comparação com o mesmo período do ano passado. Essas regiões são contrárias à tendência nacional: o país teve uma queda geral de 42% nos casos da doença.

(Foto: Arte/G1)

Os números foram contabilizados até a 52ª semana epidemiológica, que terminou no dia 24 de junho, e foram divulgados pelo Ministério da Saúde. O estado com o maior número absoluto de casos é o Ceará, com 80.045 registros. Já Roraima apresentou a maior alta, de 2.635%, passando de 60 casos nos primeiros seis meses de 2016 para 1.641 neste ano.

Casos ‘pipocando’

Antonio Bandeira, infectologista e pesquisador da Universidade Federal da Bahia (UFBA), chama a atenção para uma diferença observada entre a zika e a chikungunya — ambas as doenças são transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, assim como a dengue.

O médico conta que a zika chegou, se espalhou e infectou uma grande massa. Os números da doença que causa a microcefalia caíram drasticamente no primeiro semestre deste ano: 93%. Todos os estados, exceto Roraima, apresentaram uma queda nos casos da doença. Para o infectologista, a zika já conseguiu atingir seu pico de infecção com um espalhamento maior entre estados.

Já no caso da chikungunya, segundo Bandeira, as infecções ocorrem em grande quantidade, mas “pipocam entre as cidades”. Elas dominam uma determinada região e depois retornam. Ele conta que a Bahia, incluindo Salvador, teve uma explosão de casos no primeiro semestre de 2016 — foram mais de 48 mil notificações de chikungunya no estado, com uma taxa de incidência de 318 casos por 100 mil habitantes — e neste ano foram registradas 6.541 notificações, uma queda de 86%.

Isso não impediu que, neste primeiro semestre de 2017, outro surto chegasse a Salvador. Um alerta foi emitido pela Diretoria de Vigilância em Saúde da cidade para um aumento nos casos no Subúrbio Ferroviário, em cinco ruas da região, com 171 notificações. Vale lembrar que os pesquisadores apostam que o vírus da chikungunya, assim como o da zika, consegue infectar uma única vez cada pessoa, que cria anticorpos e se torna imune.

“O que está acontecendo é que a chikungunya está mostrando que é capaz de fazer surtos que pegam determinadas regiões, mas não esgotam aquela área, diferentemente da zika”, explicou Bandeira.

Sem relação clara entre estados

Os especialistas entrevistados não apresentaram um perfil comum entre esses sete estados que justifique a alta. Os prováveis motidos apontados são clima propício, seca e aumento da população de Aedes aegypti.

Robério Dias Leite é infectologista pediátrico em Fortaleza, e o Ceará representa mais de 80 mil do total de 131 mil notificações do Brasil neste ano. “Tivemos um grande período de seca, e neste ano uma melhora, mas ainda estamos abaixo dos níveis médios de chuvas no estado. Isso favorece porque durante a seca as pessoas tendem a armazenar água e isso contribui no desenvolvimento do mosquito”, explicou.

De acordo com Leite e Bandeira, a existência de uma alta nos casos de dengue pode indicar um aumento futuro dos casos das outras arboviroses.

“No estado do Ceará, a gente já estava observando um aumento nos casos de dengue. Essas duas coisas estão muito relacionadas ao mosquito, provavelmente uma expansão grande do vetor por lá. Então, você prepara o terreno para a doença. Quando você tem uma grande densidade de Aedes aegypti em alguma localidade, o terreno está pronto, qualquer pessoa contaminada que chega ali começa a ter o material propício para fazer um novo surto”, avaliou Bandeira.

Robério Dias Leite chama a atenção para a necessidade de mais pesquisas que comprovem se os vírus da zika, dengue e chikungunya competem entre si “por espaço” nos mosquitos. Um estudo divulgado pela revista “Nature” em maio deste ano aponta para a possibilidade de que os três vírus sejam transmitidos na mesma picada do Aedes. Os cientistas não conseguiram, no entanto, comprovar se há uma competição entre eles para conseguir mais espaço entre a população de mosquitos.

“Tem coisas que a ciência ainda precisa responder. Mas sabemos é que ,na verdade, nós temos um vetor sem controle ligado a questões ecológicas”, disse Leite.

G1