A Paraíba é o terceiro estado no Brasil com mais mortes de mães a cada 100 mil partos de nascidos vivos, 87,4. A constatação é do Observatório da Criança, publicada pela Fundação Abrinq, divulgada terça-feira (24).
Os dados mostram que o estado passa longe de cumprir a meta de 35 óbitos de mães para cada 100 mil partos de nascidos vivos, estabelecida pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, determinada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Conforme a pesquisa, com dados coletados até 2016, o estado vem em uma crescente de mortes de mães nos partos de nascidos vivos: 47,6 para cada 100 mil, em 2012; 70,4, em 2013; 53,9, em 2014; 64,3, em 2015; e 87,4, em 2016.
O estudo também traz que a Paraíba só perde para o Amapá, 109,6 mortes de mães para cada 100 mil nascidos vivos, e Maranhão, com 97,8 mortes.
O ginecologista Roberto Magliano reiterou que a taxa de mortalidade materna no Brasil é muito acima da mundial. Segundo ele, grande parte disso se deve à precariedade das maternidades em cidades de pequeno porte e a falta de profissionais qualificados para lidar com gestações de alto risco. Segundo ele, a situação do Brasil está ainda pior em relação a países mais pobres, como Cuba, Argentina, entre outros.
“A mortalidade materna no Brasil é muito acima da mundial. Essa taxa de mortalidade vem caindo nas duas ultimas décadas, mas num ritmo muito lento do esperado. Os níveis do Brasil são muito maiores do que de países de primeiro mundo, inclusive muito maiores do que países até mais pobres que o nosso como Cuba, Chile, Uruguai, Argentina. O que acontece na Paraíba é um pouco do reflexo do que acontece no Brasil todo, onde a gente tem uma rede pública de atendimento muito precária. Então a gente não consegue dar um pré-natal de qualidade para as pacientes e pior, a gente não consegue dar acesso as pacientes para ter os seus filhos na maternidade”, explicou
Segundo ele, são quatro as principais causas de mortes em partos no Brasil. “A principal é hipertensão. Depois vem hemorragia pós-parto, infecção e abortamento inseguro. Como no Brasil o aborto não é permitido por lei, muitas mulheres procuram locais clandestinos”, disse.
Segundo ele, a Secretaria de Saúde da Paraíba está desenvolvendo uma estratégia para reduzir esses números. Ele apontou também que uma solução seria contratar mais médicos, qualificá-los e que os gestores das cidades passem a investir mais neste setor.
“O enfrentamento passaria por mais médicos para atendimento e que os gestores das cidades do interior se conscientizassem e procurassem estruturar as maternidades para poder receber gestantes de alto risco. Todos esses grandes municípios da Paraíba são gestão plena, recebem o dinheiro direto do Ministério da Saúde e preferem investir numa ambulância do que em um hospital, na contratação de um pediatra, de um médico. É mais barato do que construir um hospital ou contratar um pediatra, comprar uma ambulância”,completou.
Mortalidade infantil e gravidez na adolescência
Com relação à morte de crianças menores de um ano, o Observatório mostrou que a Paraíba ocupa a 18º colocação em mortes, com 12,7 mortes para cada mil nascidos vivos. O número é o mesmo da média nacional.
A pesquisa também trouxe que o estado vem registrando queda na quantidade de partos em adolescentes, no ano de 2016.
Em partos relacionados a adolescentes entre 10 e 14 anos, o estado registrou 641 em 2015 e 581 em 2016, ocupando a 15ª posição nacional. Já sobre partos de adolescentes e jovens entre 15 e 19 anos, a Paraíba registrou 10.868 em 2015 contra 10.099 em 2016.
Ainda de acordo com o ginecologista, os problemas enfrentados pelas mães também acontece em relação à mortalidade infantil. Segundo ele, grande parte das mortes de crianças estão relacionadas ao parto.
“A mortalidade infantil tem se reduzido em todo Brasil. Na Paraíba também. Quando a gente fala de mortalidade infantil, é morte de criança até um ano de idade. Parte das mortes das crianças tem acontecido muito por causas relacionadas ao parto. A gente tem uma dificuldade nas maternidades do interior de atendimento de crianças muito prematuras, porque não têm suporte de atendimento neo-natal nem pediatras para fazer este atendimento”, finalizou.