O ex-prefeito de São Bernardo Luiz Marinho é um dos petistas mais próximos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ex-ministro do Trabalho e da Previdência, o ex-prefeito, alçado ao posto de pré-candidato ao governo de São Paulo, afirmou ao Estado que o PT tem de rever, para as eleições de 2018, a proibição de alianças com os partidos que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff para “recuperar a maioria do povo brasileiro”.
Presidente estadual do PT em São Paulo, Marinho disse que uma candidatura do ex-prefeito Fernando Haddad ao Senado depende de convencer o vereador Eduardo Suplicy a disputar uma vaga na Câmara. Sobre o PSDB, seu adversário direto na corrida ao governo do Estado, afirmou que está na hora de o partido sair do Palácio dos Bandeirantes.
Qual deve ser o arco de alianças do PT em 2018?
É muito cedo para falar disso porque vai ter uma evolução muito grande na chegada. Acredito em um monte de mudanças no início do ano, inclusive mudanças de partido até março. E a grande definição passará pela candidatura do Lula. E isso que vai definir o arco de alianças do PT no Brasil inteiro, inclusive em São Paulo.
O PT deve fazer alianças com partidos que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff?
Veja, nós temos que recuperar bases. A maioria do povo também apoiou o impeachment e nós queremos recuperar a maioria do povo. Não vejo a necessidade de um grande arco de alianças para a candidatura do Lula. Vamos precisar de uma grande aliança para governar, no Congresso. Mas isso pode se dar no processo eleitoral ou pós-eleições. Agora vamos analisar no sentido de ganhar a eleição. Depois se tomam providências sobre composição da base no Congresso.
Está havendo uma reaproximação do PT com o PMDB? O PT voltou ao governo do Renan Filho (PMDB) em Alagoas.
Depende da movimentação do lado de lá. O PMDB nunca foi um partido nacional, sempre foi uma federação de caciques nos Estados. Então vai depender do posicionamento do partido em cada Estado. Mas não enxergo qualquer possibilidade de aliança com o PMDB em São Paulo porque o Michel Temer é de São Paulo. Agora, em alguns Estados, eventualmente pode acontecer.
Mas isso contraria uma decisão do Diretório Nacional do PT.
Seguramente o diretório vai revisitar esse tema e vai saber trabalhar a complexidade momentânea da política brasileira. Reposicionamentos eventuais podem acontecer, mas não vai ser um “liberou geral”. Mas o PT deve permitir aliança com partidos que apoiaram o “golpe”.
Lula disse que o eleitorado de Dilma se sentiu traído pelas mudanças na política econômica. O senhor concorda com isso?
É um sentimento. Sentimento não se muda. O sentimento do eleitorado realmente foi esse. Em 2014 já tinha muita gente reclamando da Dilma, depois com a história do Joaquim Levy ministro (da Fazenda) de fato se colocou dessa forma.
O PT errou ao não insistir para que Lula fosse o candidato em 2014?
O PT insistiu. Lula é que não autorizou porque achava que era um direito legítimo da Dilma reivindicar a reeleição e porque não era um movimento fácil também. Já vimos outros movimentos assim que não deram certo. A partir do momento em que a Dilma reivindicou a vaga o movimento acabou sendo contido. Mas isso não tem volta.
Qual a possibilidade de o nome de Lula estar na urna em 2018?
Noventa e nove ponto nove por cento.
O que dá tanta certeza?
As circunstâncias do processo. Delação premiada não serve para condenar. É uma sentença fadada a ser revisada. Dizer que os tribunais superiores vão confirmar uma sentença dessas é chamar todo o Judiciário brasileiro de esdrúxulo.
Dilma pode ser candidata?
Até que gostaria de vê-la candidata, mas parece que não faz parte da vontade pessoal dela.
A presença dela no palanque de Lula atrapalha?
Se ela não for candidata, não ajuda nem atrapalha.
Ele não pode ser responsabilizado pelos erros dela?
Nós e a própria presidente Dilma já fizemos essa autocrítica. E já apanhamos pelos nossos erros. É hora da redenção.
Setores do PT dizem que o apoio da cúpula petista à sua pré-candidatura a governador não tem respaldo da base.
Há um debate majoritário para que a gente acelere o processo de definição de candidaturas. Portanto, não é uma posição oficial do partido. É de, sei lá, 90%. É evidente que o PT é um partido democrático e, se tiver outras reivindicações ou posicionamentos, analisará.
Tem petista chamando essa estratégia de “política do fato consumado” para barrar outras pretensões.
Nós não barramos absolutamente ninguém.
Por que antecipar o lançamento da pré-candidatura?
O que nós precisamos é criar um movimento para pensar o Estado. O PSDB governa São Paulo desde antes de nascer. (Geraldo) Alckmin está há mais de 20 anos, seja como vice, governador ou secretário. Nestes anos todos qual é o nó, o gargalo, que o PSDB resolveu?
O reequilíbrio fiscal do Estado?
Reequilibrou? O governador fala que não precisa do governo federal, mas as grandes obras só aconteceram com recursos da União. Cadê a capacidade de gestão e planejamento que eles tanto falam? Onde está o planejamento quando se fala em educação? Cadê a integração metropolitana no transporte? Tem obras na promessa que já deveriam estar prontas, mas não fincaram uma estaca até agora. O Alckmin é o governador do cafezinho. Muito cafezinho e pouca gestão.
O que explica que os governos tucanos sejam eleitos e reeleitos?
É uma incógnita. Queremos em 2018 furar essa bolha da enganação. O governador Alckmin tem uma capacidade de evitar confusão de qualquer lado na mesma proporção da capacidade que tem para enrolar.
Nos melhores momentos do governo Lula o PT não chegou nem mesmo ao 2.º turno em SP.
O PT sofreu uma derrota, mas é preciso compreender a evolução das coisas e a cabeça da sociedade. Nós estamos num momento muito nebuloso com crises política e econômica. O desafio do PT é recuperar um eleitorado que não votou na gente, mas também não foi para od lao de lá.
O sr. convidou Fernando Haddad para a vaga ao Senado?
Há um debate sobre a necessidade de o partido fortalecer a bancada federal. Se a gente convencesse o Suplicy a ser candidato a deputado federal, o Haddad seria um belo candidato a senador. O mesmo vale para o Suplicy. Então essa definição depende de um processo de convencimento.
Estadão