Flávio de Lima voltou há sete meses para Cabaceiras, Cariri da Paraíba, após uma temporada no Rio de Janeiro em busca de trabalho. Flávio trabalha como curtidor – tratador de peles – em uma cooperativa de couro na cidade. O couro que ele beneficia serve para produzir calçados no estado, alavancando a Paraíba para o posto de segundo lugar no Brasil em produção de calçados, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Calçados.
Segundo o levantamento, em 2015, a cada 10 pares de sapatos produzidos no país, dois eram da Paraíba. Há 19 anos a cooperativa de couros que Flávio trabalha foi fundada por José Carlos e outros 27 sócios, que curtiam 500 peles por mês.
A expectativa na época, em 1998, era de curtir 2 mil peles por mês em 10 anos de trabalho da cooperativa. Mas, segundo José Carlos, o resultado foi ainda melhor. “Chegamos aos 10 anos de vida curtindo 8 mil peles [por mês]”, conta. “Os que tinham deixado, voltaram a fazer o trabalho. Filhos de curtumeiros que não queriam nada, voltaram ao trabalho. Hoje tem 24 famílias que vivem exclusivamente desse trabalho”, diz.
A Diretora de Turismo e Comunicação de Cabaceiras, Mariana de Castro, garante que a produção de couros na comunidade da Ribeira – distrito de Cabaceiras com menos de mil habitantes – é responsável pelo desenvolvimento da região. A produção dos calçados movimenta cerca de R$ 1 milhão por mês.
Um curtume visitado pela TV Cabo Branco durante a produção da série especial “Passo a Passo” sobre a indústria de calçados na Paraíba, produz peles em processo artesanal. A casca do Angico passa o tanino para o couro através da água.
De acordo com José Carlos, é um processo que tem mais de 200 anos e que chegou até ele através do seu tataravô.
Na Ribeira, distrito de Cabaceiras, há 26 oficinas artesanais que produzem cerca de 12 mil peças por mês. “Nós produzimos sandálias femininas e masculinas”, diz Paulo Ricardo, um dos sócios da cooperativa de beneficiamento do couro produzido na região.
Paulo é outro filho de Cabaceiras que já se aventurou Brasil a fora em busca de oportunidades e afirma, com propriedade, que “valeu a pena sim” voltar para sua cidade natal pois ganhou muito mais “qualidade de vida, entre outras coisas”.
Com G1PB